terça-feira, 6 de novembro de 2012

Discurso de Formatura

Meu discurso de formatura.... escrito por mim e lido numa cerimônia belíssima e emocionante!


Discurso de Formatura

Após este momento de descontração, quero primeiramente cumprimentar e agradecer a presença de todos os pais, amigos, familiares e aos Mestres ilustres que compõem a mesa. Cada um de vocês é um ser especial que torna este momento tão significativo a nós, formandos.
Venho ser porta-voz do coletivo desta turma de Psicologia, que ingressou nesta Universidade no ano de 2007. Transformo-me em veículo dos sentimentos e palavras nunca expressas, que procuro sintetizar neste inesquecível momento, falando em nome do nosso grupo.
Grupo que nem sempre foi grupo. Éramos jovens buscando uma formação profissional sem ainda saber o real significado disto. E quando aqui chegamos, encontramos o caos, a rebelião, o momento de intensa crise vivida por esta Universidade, que culminou na greve de professores e que colocou em duvida os nossos planos e sonhos.
Tudo parecia conspirar contra nós. Mesmo assim efetuamos a matrícula e decidimos arriscar, como cegos que caminham às escuras. Fomos guiados apenas pela intuição de que no final tudo daria certo e foi o que se sucedeu, graças aos muitos professores que tiveram a coragem de permanecer firmes em seu propósito de ensinar, mesmo estando submetidos àquelas condições tão adversas.
Alguns deles foram embora, deixando uma espécie de lacuna em nossas vidas, mas eles também foram bem sucedidos em sua empreitada, nos deixando lembranças inapagáveis e grandes ensinamentos.
Naqueles dias, nossa sala era dividida ao meio em opiniões e comportamentos diversos. O  entrosamento e a tomada de decisões se fazia praticamente impossível, devido a tanta divergência. Nós, inexperientes que éramos, nos assemelhávamos às pedras brutas que precisam ser constantemente lapidadas, para que um dia possam se tornar diamantes, por meio da experiência e do longo processo de aprendizagem e ininterrupto conhecimento desta maravilha que é a Psicologia.
 Mesmo assim, desde o início, nossa classe sabia reconhecer o valor de um professor. A fim de melhor ilustrar essa questão, peço que todas as senhoras e senhores desloquem o seu olhar para esta mesa. Acreditem: desejaríamos que todos os nossos Mestres estivessem aí sentados, o que infelizmente não foi possível, porém, os que aí estão representam a todos eles. Saibam que eles são a imagem refletida do conhecimento, pois são incrivelmente habilidosos na arte de ensinar.
Cada professor que passa pela nossa vida é como um Amor que um dia sentimos e que mobilizou em nós os mais diversos tipos de sentimento: raiva, alegria, tristeza, paixão e contentamento. Todos eles deixaram uma parte de si em nós, através da transmissão do conhecimento, previamente adquirido em sua trajetória, nem sempre isenta de amarguras. Foram eles que nos facilitaram a interiorização desse conhecimento que exteriorizaremos, transformando a realidade – através do exercício de nossa profissão em forma de atuação ética.
 Um dos nossos primeiros professores foi o Edivaldo Bortolleto, que nos encantava com sua fala doce e lúcida e nos convidou a descortinar junto com ele o mundo da filosofia e do conhecimento científico - saber imprescindível e diretamente ligado á Psicologia, que também é uma ciência.
Sr Professor Edivaldo: Sua presença, além de nos honrar, muito nos alegra e nos faz lembrar   daqueles momentos tão bons, que eram as suas aulas, que foram impecavelmente ministradas e que fez com que nos sentíssemos acolhidos,  naquele momento tão difícil vivido por todos desta Universidade.
Ao longo do tempo experimentamos uma maior sensação de segurança e tranquilidade,  em vista do aquietamento dos rumores acerca do conflito universitário. No entanto, a classe ainda caracterizava-se pelo distanciamento de questões importantes que deveriam ser pensadas no coletivo, revelando uma grande dificuldade de resolução de conflitos.
Somente no terceiro ano, quando as disciplinas abordavam conteúdos mais práticos, observou-se um envolvimento maior dos alunos entre si, com os professores e uma clareza maior sobre a formação. Porém, a sala ainda era dividida em vários grupos fechados, que giravam em torno deles mesmos.
O grande marco para o desenvolvimento de nossa sala foi a disciplina Processos Grupais, ministrada pela querida Professora Peli, que nos possibilitou a vivência real das dificuldades que vivíamos em classe, para que encontrássemos a ponta do fio que nos levaria a olhar as relações humanas já como psicólogos e não leigos - olhar que direcionou-se  primeiramente a nós, enquanto indivíduo e depois ao grupo a que pertencíamos e que tinha um único objetivo – a formação acadêmica em Psicologia. Á partir disso, todos nós passamos a nos esforçar para ver o outro como um ser humano – amigo e não como um obstáculo que poderia interferir no sucesso individual. Assim, somente após o quarto ano, a sala passou a viver a consciência do  nós, superando a alienação do Eu isolado.
A arte de ser psicólogo requer um olhar acurado das diversas situações que compõe uma problemática – seja ela individual, grupal ou social.  Ser psicólogo é perscrutar o indivíduo e percebê-lo em sua essência humana e isso também requer treino, que fomos experenciando ao longo desses cinco anos e meio e que pudemos aplicar na prática no momento mais importante do curso: Os estágios.
 Essa experiência recente foi única, sublime, tanto no campo profissional quanto pessoal e apesar da distancia física entre nós colegas,         ( pois nem todos estavam juntos no mesmo estágio), aqueles que pouco conversavam passaram a se relacionar, trocando impressões, emoções, passaram a trabalhar juntos num contato mais direto com os Supervisores, vivendo a grande oportunidade de escolher qual área seguir, no interior do amplo leque oferecido pela Psicologia. O momento presente é a confirmação do quanto somos capazes de ser psicólogos, pois chegar até aqui não foi tarefa fácil.

Infelizmente, para algumas pessoas de nossa sala, essa chegada foi quase impossível. Para que compreendam o que digo, vou citar pequenos fragmentos de histórias de vida. Nossa amiga Érica Teotonio, integrante da comissão de formatura, sofreu um acidente de carro, ocorrido lá pelo quarto ano; tinha dificuldades para andar, teve de se submeter a várias cirurgias no joelho, o que dificultou muito sua frequência  ás    aulas, mas mesmo assim permaneceu firme na luta e embora tenha de continuar estudando por mais algum tempo, está aqui para celebrar este momento, junto a nós. Transcrevo aqui, o seu agradecimento:
Só tenho que agradecer sempre, mesmo sem saber vocês me ajudaram a deixar de pedir pra morrer para começar a pedir pra respirar a VIDA! E como a Peli disse, ela vai me ver de salto alto na formatura”.
Infelizmente as histórias tristes não terminam aqui: Nossas colegas Aldenise Henrique, Rafaella Russi e Carla Codo, tiveram a infelicidade de, neste meio tempo, perder uma das figuras mais importantes de suas vidas: os seus pais.
 Certa vez eu li um livro, escrito por uma grande mestra, que de forma involuntária foi vivenciando várias perdas, dia após dia e que dizia mais ou menos assim: Quando tudo parecer obscuro e sem solução, ainda é possível encontrar a beleza da vida, no simples ato de observar a dança dos beija-flores no camarão amarelo.
 Todos vocês amigos, que viveram uma grande dor no decorrer do curso, são lutadores e vencedores, pois puderam driblar essas adversidades e tiveram a coragem de seguir em frente, concluindo sua formação. Rafaella e Carla, seus pais se orgulhariam de vocês; certamente desejam que sejam felizes e que aproveitem ao máximo todo o calor desses dois dias de festividades.
 Como podem ver, nós formandos transitamos pelas mais diversas situações, boas e ruins;  nos envolvemos com o curso de forma física, psíquica e emocional, tivemos de realizar escolhas em detrimento de outras,  tivemos de nos sacrificar e também sacrificar as pessoas de nosso convívio, que tiveram de suportar nossas angústias durante todo este tempo.  Por isso, todos vocês aqui presentes, repito - todos vocês sem exceção– porque se aqui estão é porque possuem laços firmes com seus formandos – são vencedores, assim como nós.
Aqui encerro meu discurso, cumprimentando a todos com louvor, pela vitória e pelo encerramento de mais esse ciclo em nossas vidas.

Katia Cristina Pires
Leitura: 17 de agosto de 2012 
Sessão Solene Formandos Psicologia 2007 - 2012



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